O fundador do Bradesco, o maior banco privado da América Latina, com patrimônio líquido de R$ 6 bilhões e 67 mil funcionários, dormiu um dia num banco de praça.
Tinha 16 anos e acabara de fugir da fazenda de café onde empunhava a
enxada, em Sertãozinho (SP). Quatro anos antes, quando cursava o quarto
ano primário, o pai, o lavrador João Antônio Aguiar, que tinha 13
filhos, o tirara da escola para que ele o ajudasse na plantação. Aos 16 anos, ele escapuliu (revoltado com o comportamento do pai, que bebia demais e era tido como mulherengo) e pegou no sono, ao relento, naquele banco de praça em Bebedouro (SP). De madrugada, foi acordado por um mendigo, que lhe pediu um trocado. Aguiar revirou os bolsos e só achou uma moeda. “Então, ele pensou: parece mentira, mas existe gente que tem menos do que eu”, contou a ISTOÉ a neta Denise Aguiar.
Nascido
a 11 de fevereiro de 1904, em Ribeirão Preto (SP), Amador Aguiar ainda
estava sem rumo em Bebedouro quando entrou num restaurante. O
dono olhou para o rapazote de mãos calejadas e perguntou se ele queria
comer alguma coisa. “Não, primeiro eu quero trabalhar e só depois vou
aceitar o prato de comida”, disse Aguiar. Não demorou para que ele encontrasse emprego numa tipografia, na qual perdeu o dedo indicador da mão direita numa máquina de impressão.
Em
1926, aos 22 anos, Aguiar era office-boy na filial de Birigui (SP) do
Banco Noroeste do Estado de São Paulo. Foi nessa época que começou a
acalentar a idéia de subir na vida e, algum dia, tornar-se poderoso.
Dois anos depois, numa carreira fulminante, ele já ocupava o cargo de
gerente. Mais do que à ambição, ele atribuía o êxito a um detalhe
aparentemente secundário. “Todo o meu sucesso profissional eu
atribuo à asma. Eu não dormia à noite e, por isso, lia tudo sobre as
atividades bancárias. Assim, superei muitos funcionários mais letrados
do que eu.”
Dez contos
Em 1943, o projeto de virar banqueiro começou a se concretizar quando, com amigos, adquiriu a Casa Bancária Almeida, um banco falido de Marília (SP). A instituição ganhou de imediato um novo nome: Banco Brasileiro de Descontos, o Bradesco. No dia da inauguração, a morte repentina do sócio escolhido para dirigir o novo negócio fez de Amador Aguiar o diretor-presidente. Além de plenos poderes, foi agraciado com um terço das ações do banco, que, por sinal, naquele momento, nada valiam. O Bradesco era tão insignificante que o próprio Aguiar fazia piada da sigla da instituição nascente. “Banco Brasileiro dos Dez Contos, se há?”, alguém perguntava, e ele respondia às gargalhadas: “Não há!”
Em 1943, o projeto de virar banqueiro começou a se concretizar quando, com amigos, adquiriu a Casa Bancária Almeida, um banco falido de Marília (SP). A instituição ganhou de imediato um novo nome: Banco Brasileiro de Descontos, o Bradesco. No dia da inauguração, a morte repentina do sócio escolhido para dirigir o novo negócio fez de Amador Aguiar o diretor-presidente. Além de plenos poderes, foi agraciado com um terço das ações do banco, que, por sinal, naquele momento, nada valiam. O Bradesco era tão insignificante que o próprio Aguiar fazia piada da sigla da instituição nascente. “Banco Brasileiro dos Dez Contos, se há?”, alguém perguntava, e ele respondia às gargalhadas: “Não há!”
Em
1946, ele transferiu a sede do banco de Marília para a rua 15 de
Novembro, no centro de São Paulo – sete anos depois, a administração do
Bradesco seria instalada em Osasco, na Grande São Paulo, de onde nunca
mais saiu. “Foi o pioneiro em separar a administração das agências”,
disse a ISTOÉ Lázaro Brandão, sucessor de Aguiar e presidente do
Bradesco até pouco tempo atrás – atualmente, preside o Conselho de
Administração. Segundo Brandão, a idéia de Aguiar era afastar os altos
executivos do Bradesco dos problemas corriqueiros das agências. Com
isso, sobraria tempo para eles se dedicarem aos grandes negócios. Outra
inovação: o Bradesco foi o primeiro banco a aceitar o pagamento das
contas de luz. “Com sua visão aguçada, ele fez com que o Bradesco se
transformasse, já em 1959, no maior banco privado da América Latina,
posição que nunca mais perdeu”, disse Brandão. Na fachada do prédio do
Bradesco em Osasco ainda hoje se lê a frase que sempre inspirou Aguiar:
“Só o trabalho pode produzir riquezas.”
Em
seu caso, gerou uma fortuna pessoal avaliada em US$ 860 milhões. Mas
Aguiar – que teve três filhas e 13 netos – foi um homem de hábitos
simples até o fim da vida. Fazia questão de dirigir seu próprio carro,
um Fusca. A maior diversão era cortar lenha em uma das fazendas
espalhadas pelo País. Gostava de dormir em rede e, curiosamente, nunca
usou talão de cheques. Tampouco guardava dinheiro no bolso. Afastou-se
da administração do Bradesco, em 1990, e morreu a 24 de janeiro de 1991
de parada cardíaca. Ficou a lenda de uma das mais bem-sucedidas
carreiras de self made man do País.
VOCÊ SABIA?
Num hotel em Manaus, esqueceram de colocar toalhas no quarto. Não quis incomodar a camareira e se enxugou com a camisa. No restaurante, o garçom não o reconheceu e pediu para ele mudar de mesa. “Ele está só fazendo o seu trabalho”, aceitou Aguiar sem reclamar.
Num hotel em Manaus, esqueceram de colocar toalhas no quarto. Não quis incomodar a camareira e se enxugou com a camisa. No restaurante, o garçom não o reconheceu e pediu para ele mudar de mesa. “Ele está só fazendo o seu trabalho”, aceitou Aguiar sem reclamar.
Errata
Ao ser contratado como diretor-gerente da Casa Bancária Almeida, de Marília, Amador Aguiar recebeu 10% das ações e não um terço delas; na ocasião, a instituição já se chamava Bradesco e não estava falida; em 1951, Aguiar assumiu a superintendência e só se tornou presidente do Bradesco em 1969, em substituição a José da Cunha Jr., genro do fundador do banco, José Galdino de Almeida.
Ao ser contratado como diretor-gerente da Casa Bancária Almeida, de Marília, Amador Aguiar recebeu 10% das ações e não um terço delas; na ocasião, a instituição já se chamava Bradesco e não estava falida; em 1951, Aguiar assumiu a superintendência e só se tornou presidente do Bradesco em 1969, em substituição a José da Cunha Jr., genro do fundador do banco, José Galdino de Almeida.
Revista Isto É
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